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MARLI VIEIRA Quarta-feira, 28 de Fevereiro de 2018, 13:46 - A | A

28 de Fevereiro de 2018, 13h:46 - A | A

MARLI VIEIRA / MARLI VIEIRA

COLUNA: Violência Escolar – Bullying

Marli Vieira
Nova Mutum



A violência está presente no dia-a-dia de cada um de nós. Existe uma violência explícita por todo o país. Isso não é diferente na escola brasileira. Não se trata apenas de uma violência denominada simbólica, teoria defendida por Bourdieu e Passeron, mas de uma violência real, que vem sendo desenvolvida por uma cultura da violência.

A indisciplina, que, de uma maneira ou de outra, sempre existiu na escola, vem ganhando um novo vulto pela inobservância da partilha de responsabilidades, cooperação, solidariedade, convivência, abrindo espaço para a agressividade, a indiferença, o desrespeito, numa clara ausência da alteridade, no sentido de perceber o outro, como seu semelhante, dotado dos mesmos sentimentos e emoções. Nesse sentido, pretendo lançar os seguintes questionamentos:

·         A violência está ligada à incapacidade organizacional da escola em estabelecer um modelo de ordem?

·         A violência que ocorre no cotidiano da escola é um complexo espelhar da sociedade e, portanto, não pode ser resolvida nos limites dos muros da Escola?

·         A escola, na sua prática pedagógica, apresenta-se sob a égide do poder, cultivando o medo e gerando a cultura da violência?

Refletindo acerca dessas questões, pesquisando na escola, na internet, com um olhar, ouvindo e escrevendo, atenta, foi possível apreender como a violência está presente, no portão, nas quadras, no refeitório, nos banheiros, nos corredores e nas salas de aula da escola.

Para a conscientização de todos, aqui estão alguns os dados estatísticos:

•10% dos alunos de qualquer escola estão envolvidos em Bullying;  

•1/3 dos casos são denunciados.

Estes dados mostram que deve haver uma maior sensibilização para o problema. Nunca se deve deixar de divulgar, é preciso combater qualquer tipo de violência!

O Bullying é um problema que afeta nossos filhos - alguns são agressores, outros são vítimas, outros são testemunhas de violência interpessoal. Normalmente passam pelas três opçoes.

As estatísticas sobre as taxas de bullying e cyberbullying variam entre os estudos conhecidos, devido às unidades de medida utilizadas, as perguntas feitas, e a população estudada. No entanto, o consenso geral é que uma em cada três crianças sofre devido ao "bullying" na escola, na vizinhança, ou online, e que uma em cada três crianças é agressora continuadamente.

Além disso, as taxas de bullying variam consideravelmente de país para país. Cerca de 9% a 73% dos alunos disseram já ter intimidado outra criança, e 2% para 36% dos estudantes disseram que já foram vítimas de bullying, segundo estudos, segundo a ABC Agencia Brasil, 2017.

Quem não praticou o bullying na escola? Seja de forma direta (ação) ou indireta (omissão). Quem não foi vítima ou agressor? É um mal que contribui para a construção de adultos agressivos (praticante ativo) e depressivos (vítimas).

Segundo Maffesoli (1987), existem três modalidades de violência: a totalitária, a anômica e a banal. A totalitária é conseqüência do monopólio da estrutura dominante: Estado, partido, organização. A anômica que é uma resposta à violência, à dominação dos poderes instituídos, revoltas latentes que ocorrem ocasionalmente, inscreve-se entre a destruição e a reconstrução, entre ordem e desordem, que reprimida pode explodir em crueldade. Há sempre negociação, adaptação. A banal caracteriza-se pela passividade ativa, não se integra ao instituído, mas se opõe a ele. Subverte o poder através da submissão aparente, não recusa, porém não arrebata. Utiliza a máscara, o silêncio, a fachada, a zombaria, os grafites e as pichações.

Pode-se situar a violência na escola, como uma violência anômica, ao mesmo tempo que banal em função da tentativa de controlar tal violência e nas resistências que apresentam através da palavra, das discussões, do silêncio, sem assumir uma posição aberta, forte, mas sem recusa ao fato, ao mesmo tempo que convive com os grafites, as pichações e as depredações.

Lembra Balandier (1997) que a violência pode tomar a forma de uma contagiosa, dificilmente controlável, de uma doença da sociedade que aprisiona o indivíduo e, por extensão, a coletividade, num estado de insegurança que gera o medo. Por outro lado, o vandalismo lança-se sobre as coisas, os instrumentos, os lugares a fim de destruí-los, sujá-los, torná-los inutilizáveis e que tudo isso é ritualizado, significando a ruptura de um laço social frágil, um culto à desordem, uma cultura da violência.

Reprodução

COLUNA MARLI 3

 

Maffesoli (1987 p.22) coloca que a destruição se inscreve no jogo do poder e da potência. Que a violência desempenha uma função de ligação ou de indicador. A “violência social”, como simbolização da força, vivida e coletiva e ritualmente, assegura a coesão e o consenso; a “violência sanguinária” se manifesta, quando há impossibilidade de simbolização, ou quando esta é imperfeita e significa o retorno do reprimido. Há a violência do ponto de vista da potência (alunos depredando a escola, agressões mútuas e pichações) e do poder (violência dos poderes instituídos) tornando-se marginalizado, uma vez que diante da potência é muito frágil. O poder tem procurado combater essa violência institucional, trancando com chaves as portas das salas e fazendo de cada professor o responsável por ela. Colocando grades nas janelas, mantendo os portões fechados, como se a violência estivesse fora dos muros da escola. É comum a qualquer hora encontrar responsáveis pela escola, portando um molho de chaves.

Fala-se em construtivismo, em respeito ao desenvolvimento psicológico dos jovens e adolescentes, mas o que é respeitado é a seqüência do livro didático, distribuído pela FAE. A riqueza do espaço do recreio, da recreação através da brincadeira, do prazer, da alegria, da satisfação são as vezes desprezados, embora estes sejam o grande cimento que ainda mantém a escola viva. Carentes de espaços, de não terem opção de lazer, os alunos às vezes vêm para a escola, com a roupa que faz parte do imaginário do prazer, e não do imaginário da ordem, o que solicita a escola, deixando eles de perceberem que as normas não são respeitadas, obedecidas.

A violência existente na escola representa um certo papel que precisa ser negociada e vista como manifestação maior do antagonismo existente entre a vontade e a necessidade, num confronto de valores, pois a luta é fundamento, o elemento estrutural do fato social, de qualquer relação social. Ela não é um fenômeno único, está repleta de valores, é uma fonte de vida, de luta. É a energia que faz “funcionar” a escola.

A crítica de que a escola é violenta, parece desconhecer que a escola sofre todo um processo diário de violência através da hierarquia dos poderes: Banco Mundial, Ministério da Educação, Conselho Nacional de Educação e todos os envolvidos, num processo que é ritualizado a cada momento, um poder controlador e construtor da realidade cotidiana da escola. Isso leva a crer que a violência tem uma dimensão construtiva, uma ação estruturante para a organização da escola, no sentido de rever os mecanismos de poder, de hierarquização.

Nota- se que cada vez mais os alunos demonstram comportamentos e atitudes agressivos, ferindo tanto a integridade física, quanto psicológica de colegas e professores. Por esse motivo, faz- se necessária uma investigação mais consistente das causas dessa violência, bem como, as possíveis alternativas para compreender e modificar essa situação. Hoje se vive num mundo onde a violência começa a mostrar-se cada vez mais imperativa em todos os setores da nossa vida, deixando pais, professores e a sociedade de uma maneira geral, inseguros e preocupados com a segurança e com o futuro das crianças.

 À escola, neste momento, recebe um aumento de  sua responsabilidade no que se refere ao conscientizar, educar e preparar os alunos para essa dura realidade, o que torna ainda maior as suas já demasiadas atribuições. Nesse sentido, surge a necessidade de desenvolver um trabalho que leve o jovem a reconhecer a violência em suas diversas faces, entendendo que sua aplicação nos à vulnerabilidade, ao isolamento e à solidão.

Referências Bibliográficas

BALANDIER, Georges. A Desordem. Elogio do Movimento. Rio deJaneiro: Bertrand Brasil, 1997.

BOURDIEU, P. Questões de sociologia. Rio de Janeiro: Marco Zero, 1983.

______. O poder simbólico. Lisboa: Difel, 1989.

BOURDIEU, P.; PASSERON, J.-C. A reprodução: Elementos para uma teoria do sistema de ensino. Trad. de Reynaldo Bairão. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1982.

_____. Razões práticas: sobre a teoria da ação. Trad. de Mariza Corrêa. Campinas, SP: Papirus, 1996.

MAFFESOLI, Michel. A Conquista do Presente . Rio de Janeiro: Rocco, 1987.

______ A violência totalitária. Rio de Janeiro: Zahar,1981

______ Dinâmica da Violência. São Paulo: Vértice, 1987

MORIN, Edgar. Introdução ao Pensamento Complexo. Paris: Instituto Piaget, 1990.

______ A ética do sujeito responsável. In: CARVALHO, Edgard de Assis (Org.) Ética, Solidariedade e Complexidade. São Paulo: Palas Athena, 1998.

Site:http://agenciabrasil.ebc.com.br/educacao/noticia/2017-04/um-em-cada-dez-estudantes-no-brasil-e-vitima-frequente-de-bullying Assista o vídeo sem som: (uma séria reflexão sobre essa prática).

http://www.youtube.com/watch?v=aIjRTYa7UK0&feature=player_embedded  



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