Gazeta Digital
Cuiabá-MT
O Ministério Público Estadual (MPE) instaurou inquérito para apurar a conduta do padre Ramiro José Perotto, da Paróquia São Paulo Apóstolo, de Carlinda (762 km ao norte de Cuiabá). Comentários do sacerdote viralizaram, após ele afirmar que a menina de 10 anos, vítima de estupro no Espírito Santo, “gosta de dar”.
O procedimento foi instaurado pela promotora Lais Liane Resende, de Alta Floresta, nesta sexta-feira (21). Além do procedimento administrativo, o órgão enviou ofício à igreja, para que informe as providências sobre a conduta do pároco.
Segundo o inquérito, a investigação pode averiguar possível crime de apologia ao estupro por conta dos comentários do padre, na modalidade de incentivo. “Quanto aos danos individuais, causados à vítima, devem ser apurados no local em que a família tomar conhecimento dos fatos”, informou a assessoria do MPE.
A investigação também será conduzida pela Polícia Judiciária Civil. O delegado Pablo Bonifácio Carneiro, que responde por Carlinda, instaurou Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO), pelo cometimento do crime de apologia ao estupro, supostamente praticado pela autoridade religiosa.
“Destaca-se que tais afirmações, mormente advindas de uma autoridade religiosa, numa região onde existe o exacerbado número de estupros de vulneráveis, podem sugerir um fomento à prática de delitos desta natureza, sendo uma instigação indireta a este crime classificado como hediondo”, diz o delegado, em trecho do despacho.
Até a tarde de quinta-feira (21), a Diocese Sagrado Coração de Jesus de Sinop, responsável pela Paróquia de Carlinda, se reuniu para discutir o afastamento do padre, mas ainda não se manifestou após a polêmica.
O caso
De acordo com o padre, ele fez o comentário após republicar a mensagem do presidente da CNBB, Dom Walmor Oliveira de Azevedo.
Conforme o print, o pároco iniciou a discussão em seu perfil no Facebook, sobre o caso da menina de 10 anos que era estuprada pelo tio desde os 4, no Espírito Santo. A criança realizou aborto legal, com respaldo da justiça, após a gravidez proveniente dos abusos constantes.
Respondendo as pessoas, ele afirma que ela aceitou os abusos. “Ela compactuou com tudo e agora é menina inocente”, diz, após rir. “Gosta de dar então assuma as consequências”.
No entanto, ele diz que as pessoas distorceram suas palavras e até mesmo o print que viralizou. “Começamos a conversar e eu falei que o que nós temos hoje uma sociedade erotizada, as crianças visualizam erotismo até no desenho animado. Tem criança de 10 anos que é inocente, e tem criança que não é. Mas eu jamais colocaria aquela mensagem, printaram e apagaram o nome da pessoa, jogaram um monte de coisa que eu não disse”, conta.
Em carta aberta à imprensa, o padre pediu perdão pelos comentários, além de ter assumido a autoria deles. “Justifico que compartilho da defesa da vida, nunca condenar e tirar julgamentos. Não foi minha intenção proferir palavras de baixo calão, as quais não comungam com minha fé e minha crença na pessoa humana”, esclarece.