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O governo federal anunciou nesta terça-feira (1º) o Plano Safra 2024/25, mas o setor produtivo segue em alerta com a elevação das taxas de juros para o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) e o Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural (Pronamp). A preocupação é que o crédito mais caro desestimule investimentos essenciais para o agro, especialmente nas cadeias de proteínas animais, como suinocultura e confinamento de bovinos, que dependem de financiamento para ampliar infraestrutura e garantir produtividade.
O aumento previsto de até 2 pontos percentuais nas taxas de juros do Plano Safra para programas como o Pronaf e o Pronamp acende um alerta para o setor de proteínas animais. Segundo Valdecir Folador, presidente da Acsurs, o cenário de juros elevados deve inibir ainda mais os investimentos, sobretudo na suinocultura, que já enfrenta dificuldades para financiar melhorias estruturais.
“Com a Selic em 15%, fica praticamente inviável investir em infraestrutura. A rentabilidade atual da suinocultura não é suficiente para arcar com os custos desses financiamentos”, afirmou. Embora o setor esteja atravessando um ano positivo do ponto de vista econômico, com margens dentro da normalidade, o ambiente de crédito mais caro impede avanços significativos. “Não estamos enriquecendo, mas estamos conseguindo pagar as contas. Mesmo assim, com juros altos, não conseguimos sustentar novos investimentos”, completou Folador.
Segundo o analista de mercado da Safra & Mercado, Fernando Henrique Iglesias, os juros elevados do plano safra vão acabar engessando os investimentos dos pecuaristas e também dos produtores. “Isso pode gerar dificuldades para um pecuarista e produtor rural que pretendia fazer investimentos na propriedade e pode ter uma redução no uso de tecnologia”, destacou ao Notícias Agrícolas.
O analista ainda reportou que como os juros estão altos para muitos produtores rurais, tomar uma linha de crédito vai ser um risco muito grande, considerando os riscos de mercado. “É uma conta que todos estão fazendo, pois compensa mais colocar o dinheiro em uma renda fixa com risco baixo ou correr riscos com as condições climáticas e de mercado e alocar o capital dentro da propriedade”, comenta.
A terceirização da engorda por meio de boitel tem ganhado espaço na pecuária brasileira, mas os investimentos do setor privado nesse modelo têm sido afetados pelo encarecimento do crédito. Segundo dados da DSM-Firmenich, atualmente 19,1% dos animais confinados em boitel pertencem a terceiros — um reflexo de um período de expansão puxado por condições financeiras mais favoráveis no passado recente.
“Em 2021, com juros bastante reduzidos, houve um forte impulso nos investimentos em boitel. Muitos investidores viram oportunidade nesse modelo e entraram com força no mercado”, afirmou Walter, da DSM-Firmenich.
Por outro lado, o governo trouxe como uma das novidades o Programa de Transferência de Embriões, uma iniciativa que visa financiar a melhoria genética e a produtividade na cadeia leiteira. O presidente da Associação de Criadores de Gado Holandês do Rio Grande do Sul (Gadolando) e da Federação Brasileira das Associações de Criadores de Animais de Raça (Febrac), Marcos Tang, considera positivo o interesse em ajudar o produtor a ter uma melhor genética para seus animais, “desde que sejam recursos com juros acessíveis e sem muita burocracia”.
O presidente da Gadolando e da Febrac enfatiza, ainda, que é um trabalho que precisa ser feito com muita parcimônia, com muito cuidado, para que haja um bom uso do dinheiro. “Temos que ver como vai ser o programa, quem tem direito, e aí entra a responsabilidade de todas as associações envolvidas com a cadeia leiteira em dar esse suporte e ajudar na escolha dessas matrizes que serão replicadas”, adianta.