NOVA MUTUM, 12 de Julho de 2025
  
DÓLAR: R$ 5,57
NOVA MUTUM, 12 de Julho de 2025
  
DÓLAR: R$ 5,57
Logomarca

GERAL Sábado, 12 de Julho de 2025, 08:56 - A | A

12 de Julho de 2025, 08h:56 - A | A

GERAL / DUPLO RACISMO

Homem processa empresa por racismo, recebe indenização e acaba vítima de novo caso de discriminação no banco

Veterano negro da Força Aérea foi alvo de suspeita e acionamento policial ao tentar sacar cheques legítimos; ele moveu novo processo, desta vez contra o banco

Mauro Fonseca/Da Redação
Estados Unidos



Um caso de racismo institucional chamou atenção nos Estados Unidos e ganhou repercussão internacional: o veterano da Força Aérea Sauntore Thomas, de 44 anos, morador de Detroit, processou sua antiga empresa por discriminação racial, chegou a um acordo financeiro, mas, ao tentar sacar o valor da indenização, acabou sendo tratado como suspeito de fraude e teve a polícia chamada contra si pelo banco.

Thomas havia movido uma ação contra a Enterprise Leasing Company por práticas discriminatórias no ambiente de trabalho. Após um acordo judicial, recebeu três cheques no valor total de cerca de US$ 99 mil, divididos em aproximadamente US$ 13 mil, US$ 27 mil e US$ 59 mil. No dia 21 de janeiro de 2020, ele foi até uma agência do TCF Bank, onde já mantinha conta, para depositar ou sacar os cheques recebidos legalmente.

Contudo, o que deveria ser um procedimento simples se tornou um episódio traumático. Segundo relatos, o sistema do banco classificou os cheques como "possivelmente fraudulentos", e os funcionários alegaram que o sistema de verificação estava temporariamente inoperante. Apesar disso, ao invés de buscar solução junto à empresa emissora dos cheques, o gerente da agência optou por chamar a polícia sem informar Thomas sobre a medida.

Quatro policiais foram deslocados para o local: dois entraram no banco e interrogaram Thomas; outros dois permaneceram do lado de fora, em posição de prontidão. O cliente não foi preso, mas relatou ter se sentido humilhado, constrangido e ameaçado pela abordagem, afirmando que "temeu por sua vida".

Sem conseguir resolver a situação, Thomas deixou a agência do TCF e, no mesmo dia, procurou uma unidade do banco Chase, onde conseguiu depositar os mesmos cheques. Em cerca de 12 horas, os valores foram liberados sem qualquer impedimento, uma evidência de que não havia qualquer fraude envolvida.

No dia seguinte, 22 de janeiro de 2020, Sauntore Thomas moveu nova ação judicial, desta vez contra o TCF Bank, por discriminação racial, alegando que sua cor de pele foi o fator determinante para a suspeita e a intervenção policial. O processo busca uma indenização ainda não especificada.

Em nota pública, o TCF Bank pediu desculpas, mas também defendeu suas ações, afirmando que segue protocolos de segurança em operações consideradas "atípicas". A instituição admitiu, no entanto, que o acionamento da polícia não deveria ter ocorrido e que houve falha na forma como a situação foi conduzida.

O caso evidencia o fenômeno que ativistas e estudiosos vêm denunciando há anos nos Estados Unidos: o chamado “banking while Black”, a prática de suspeitar, interrogar ou restringir o acesso de pessoas negras a serviços bancários com base em estereótipos raciais. Para Thomas, a experiência foi não só uma repetição do trauma vivido na empresa anterior, mas uma demonstração de como o racismo estrutural se manifesta até mesmo em instituições financeiras.

“Fui tratado como um criminoso por tentar sacar o que era meu por direito”, disse Thomas em entrevista à imprensa. “Depois de lutar contra o racismo no trabalho, fui confrontado com ele novamente no banco. Isso não pode ser normalizado.”

O processo segue tramitando na Justiça de Michigan, e organizações de direitos civis acompanham o desfecho com atenção, apontando o caso como mais um exemplo de racismo sistêmico em diferentes esferas da vida americana.



Comente esta notícia