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Nova Mutum-MT
O delegado da Polícia Federal em Curitiba e coordenador da quarta fase da Operação Carne Fraca, denominada Romanos, Maurício Moscardi Grillo disse, na manhã desta terça-feira (01), em entrevista coletiva, que uma empresa de abate de frangos em Nova Marilândia (274 km de Cuiabá) intermediava pagamentos de propinas da companhia BRF aos fiscais agropecuários. “Essa empresa em Mato Grosso dava logística da operação. Mostra que era uma intermediadora dos fiscais. A BRF tinha um tipo de convênio e a empresa fazia o pagamento. Essa empresa entra nessa situação. Quanto ao proprietário ( o ex-senador Cidinho Santos, sócio da empresa em Nova Marilândia) não é investigado diretamente. Nessa fase, queremos saber quem dentro da empresa tinha conhecimento e que pagava. Hoje a operação está em 60 fiscais, mas não podemos fechar somente nisso. Os pagamentos eram feitos em espécie”, informou.
Grillo explicou que os fiscais recebiam as propinas para fazer ‘vista grossa’ nas irregularidades das empresa investigadas. “Nesta fase, os grupos não terão ajuda pelas colaborações. São descompromissadas com ganhos pela colaboração. Os agentes recebiam e faziam omissões para favorecer as empresas. Com isso, essas empresas queriam ter um certo conforto para não ser incomodadas. Temos uma legislação bastante complexa se tratando em saúde pública. Algumas vezes, (as propinas) eram para não ter incomodo. Para o fiscal não ficar ‘pegando no pé’ e reparando detalhes da empresa. Outras vezes era para agilizar prazos por conta certas vantagens e não atrapalhar o andamento dos processos. Ou até mesmo poder fazer o abate de frangos com mais agilidade. Essa era um das colaborações dos fiscais com as empresas, por exemplo”.
A quarta fase da Operação Carne Fraca, denominada Romanos foi deflagrada, esta manhã. Estão sendo cumpridos 68 mandados de buscas e apreensões. Em Mato Grosso são 4 – em Nova Marilândia e Mirassol D’Oeste, Nova Mutum e Cuiabá. Os demais no Paraná, São Paulo, Santa Catarina, Goiás, Pará, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Rio de Janeiro. As ordem judiciais foram expedidas pela 1ª Vara Federal de Ponta Grossa (PR).
De acordo com a assessoria da PF, o inquérito tem como foco principal a apuração de crimes de corrupção passiva praticados por auditores fiscais agropecuários federais em diversos Estados, em benefício de grupo empresarial do ramo alimentício, que passou a atuar em colaboração espontânea com as autoridades públicas na investigação.
O grupo empresarial indicou que ao menos 60 auditores fiscais agropecuários teriam sido favorecidos com as vantagens indevidas. Há indicativos de que foram destinados R$ 19 milhões para os pagamentos indevidos. Os valores eram pagos em espécie, por meio do custeio de planos de saúde e até mesmo por contratos fictícios firmados com pessoas jurídicas que representavam o interesse dos fiscais.
A prática ilegal teria sido interrompida no ano de 2017, quando o grupo passou por uma reestruturação interna. O nome da operação faz referência a diversas passagens bíblicas do Livro de Romanos, que tratam de confissão e justiça.