NOVA MUTUM, 14 de Janeiro de 2025
  
DÓLAR: R$ 6,05
NOVA MUTUM, 14 de Janeiro de 2025
  
DÓLAR: R$ 6,05
Logomarca

GERAL Sexta-feira, 28 de Agosto de 2020, 17:13 - A | A

28 de Agosto de 2020, 17h:13 - A | A

GERAL / GERAL

Empresário mutuense envolvido em escândalo nacional divulga carta esclarecendo o caso; confira

Power Mix com RepórterMT
Nova Mutum-MT



O sócio da cervejaria Kessbier, de Nova Mutum, Guilherme Jorge Giorgi, envolvido no escândalo nacional após comentários racistas e misóginos serem feitos contra concorrentes negros e do sexo feminino, no grupo de WhatsApp “Cervejeiros Iluminati”, divulgou na tarde desta sexta-feira (28), uma carta aberta falando sobre o caso.

Confira a nota na integra: 

CARTA ABERTA A NOVA MUTUM

Na data de ontem, foram veiculadas nos meios de comunicação nacionais e estaduais matérias sobre a divulgação de conversas privadas em um grupo de Whatsapp, e assim, venho a público esclarecer sobre o que vem sendo divulgado.

Com relação ao ocorrido eu estou bem chateado, porque eu e a empresa em que trabalho com meus sócios (Cervejaria KessBier) estamos sofrendo diversos ataques devido a uma única fala minha que foi totalmente tirada de contexto.

Me arrependo? Evidente que sim. Aprendi que tem certas coisas que a gente não pode nem pensar, quanto mais falar. Mas essa situação de perseguição que estamos sofrendo, é algo inimaginável. Ser tratado como criminoso, tendo a certeza que não sou, é algo horroroso.

Após me reunir com os meus sócios, chegaram a me afastar das minhas funções na cervejaria, e por que? Porque conversas particulares em um grupo privado de Whatsapp foram tiradas de contexto e publicadas.

Éramos dezenas de conhecidos em um grupo fechado, no qual se discutia diversos assuntos, de cunho técnico a assuntos do momento, como em qualquer outro grupo de família ou amigos. Todos estamos passando por essa quarentena longa por conta da Pandemia e não é fácil enfrentar todas as dificuldades sozinhos, e por esse grupo rodava milhares de mensagens por dia e como é natural em qualquer debate, a conversa oscila por pontos e contrapontos. Às vezes alguns assuntos tratados eram espinhosos, e nem sempre os posicionamentos delicados.

No caso em questão em que fui exposto, a discussão era sobre a Cervejaria Implicantes de Porto Alegre, RS, cervejaria essa que só tomei conhecimento de sua existência naquele momento, a qual pedia financiamento público (crowdfunding), se auto intitulando de “a primeira cervejaria negra do Brasil”. A partir dessa notícia, discutiu-se, no grupo se o pleito era legítimo e se seria realmente necessária tal distinção étnica para ganhar a atenção do público. Em nenhum momento houve um ataque pessoal a ela, muito menos a afirmação de que era um ataque a concorrentes, mesmo porque estamos no interior do Mato Grosso e ela no Rio Grande do Sul.

Nesse contexto eu fiz uma única colocação, em analogia as normativas do Ministério da Agricultura em relação a estrutura física da cervejaria, que, hoje, olhando em perspectiva, considero infeliz e desnecessária. Nunca deixei de respeitar nenhum ser humano e quem me conhece sabe disso. Me arrependo de ter participado da discussão não pela discussão em si, mas porque podia ter fluído de outra forma.

Honestamente, peço desculpas se alguém se ofendeu com meu comentário, mas tenham a certeza de duas coisas: não havia, jamais a intenção de prejudicar ninguém e não eram comentários públicos direcionados a alguém.

Estou arrependido e jamais eu tive a intenção de desmerecer o esforço de qualquer pessoa, muito menos em razão de etnia, tanto que desde o vazamento dos prints editados, repensei o que ocorreu, me coloquei no lugar deles e na dor que poderiam estar sentindo e tentei contato com a Cervejaria Implicantes, mas não obtive retorno.

No mercado cervejeiro não devemos ter distinções étnicas e ideológicas, muito menos consideramos outra cervejaria artesanal como concorrente, isso não condiz com a realidade e sempre trabalhei em prol da difusão e da educação cervejeira para todos.

Essa lição aqui aprendida eu vou levar para a vida. Nunca pensei em ofender ninguém e também estou vendo como é horrível ser julgado publicamente. Em vez de perguntar “Ei, o que aconteceu? Pode me explicar?”, as pessoas chegam cheias de ódio, só para expressar raiva, sem intenção de conversar e entender o que ocorreu.

De novo, peço desculpas se alguém leu a única mensagem minha no ocorrido e se sentiu ofendido, mas meu pensamento estava longe de pretender agredir ou ofender qualquer pessoa.  

Lamento mesmo.

Guilherme Jorge Giorgi
Cervejeiro
28/08/2020

Entenda o caso: 

Tudo começou com ataques a uma nova empresa, a cervejaria gaúcha Implicantes, que é fundada e gerenciada por negros. O empresário de Mato Grosso criticou a postura do governo federal em conceder financiamento para a Implicantes.

Divulgação

Prints caso da cervejaria kessbier

“O Mapa [Ministério da Agricultura] autoriza uma cervejaria negra? Não tem que ser branca, facilmente lavável, inox, etc?”, escreveu Guilherme.

As mensagens trocadas fazem piada de que o “amigo negro, da cervejaria negra  só faz stout", um tipo de cerveja escura, feita com malte torrado.

A sommelier de cerveja Sara Araújo também foi atacada em conversa, definida como feminista de forma negativa.

“Mandei essa mina se f* na primeira vez que a vi”, disse um membro.

“Ela [Sara] deve transar com lésbicas negras. Se f*”, escreveu outro homem.

No entanto, os ataques não ficaram apenas contra Sara e partiram para mulheres que atuam no ramo. Os homens se referem às profissionais do meio como "bando de arruaceiras de suvaco cabeludo”.

“Eu acho que as cervejarias feministas deveriam primeiro aprender a falar lager corretamente, antes de fazer patrulha sexista”, cutucou um participante.

Membros do grupo ainda fizeram acusações de apropriação cultural europeia, citando que os europeus e brancos são os responsáveis pela produção da cerveja desde sempre.

Divulgação

Prints caso da cervejaria kessbier

Depois de partes da conversa de WhatsApp vazarem, um professor questionou se os membros queriam ser presos.

“Tá todo mundo aqui no grupo pronto para ir em cana? Ninguém solta a mão de ninguém”, disparou.

Segundo a Escola Superior de Cerveja e Malte (ESCM), o profissional foi afastado enquanto o caso é analisado.

A Abracerva (Associação Brasileira da Cerveja Artesanal) repudiou o episódio e os responsáveis devem sofrer sanções do código de ética do sindicato.

Vale ressaltar que racismo é considerado crime de ódio, passível de prisão, de acordo com a lei federal n° 7.716.



Álbum de fotos

Divulgação

Divulgação

Divulgação

Divulgação

Divulgação

Comente esta notícia