Mauro Fonseca/Da Redação
EUA
Uma investigação publicada nesta quinta-feira (26) pelo site especializado MusicAlly.com trouxe à tona um caso intrigante e alarmante para o universo da música digital. Trata-se do grupo The Velvet Sundown, que apesar de ter presença constante em playlists populares no Spotify, pode não passar de uma criação inteiramente artificial.
A biografia da banda menciona quatro integrantes com nomes estilizados como Milo Rains e Orion Del Mar. No entanto, não há qualquer registro online que comprove a existência real dessas pessoas. Nem fotos pessoais, redes sociais, entrevistas ou registros em shows. Mais que isso: uma suposta citação elogiosa da Billboard sobre o grupo também parece ser fabricada — simplesmente, nunca foi publicada.
As imagens promocionais da banda reforçam o mistério. Segundo o MusicAlly, elas têm aparência sintética, como se tivessem sido geradas por inteligência artificial. Os rostos são simétricos demais, os cenários têm aquele ar "limpo demais" marcas típicas de imagens criadas por IA. As faixas, por sua vez, apresentam composição, produção e distribuição digital realizadas por ferramentas como o DistroKid, serviço automatizado de publicação musical, o que alimenta ainda mais a suspeita.
A própria Deezer, uma das grandes plataformas de streaming, já sinalizou trechos do conteúdo do The Velvet Sundown como "potencialmente criados por inteligência artificial", com base em sua tecnologia de detecção de músicas sintéticas.
Apesar da origem duvidosa, os números são surpreendentemente reais. As faixas da banda figuram em várias playlists populares, mesmo aquelas criadas por perfis com poucos seguidores. Ainda assim, essas listas acumulam centenas de milhares de salvamentos, levantando a suspeita de uma estratégia coordenada para burlar os algoritmos do Spotify, favorecendo artificialmente o alcance das músicas.
Essa possível manipulação coloca em xeque os sistemas de curadoria das plataformas. Quando uma banda possivelmente fictícia consegue driblar os filtros e ganhar espaço entre as sugestões automáticas oferecidas a milhões de ouvintes, a questão deixa de ser apenas tecnológica e passa a atingir a credibilidade de toda a indústria fonográfica.
O caso do The Velvet Sundown acende um alerta: não apenas sobre a ascensão de músicas geradas por IA, mas sobre o modo como essas obras sem alma, sem história, sem rosto podem se infiltrar no mercado musical com tanta facilidade. Quando até o mistério soa fabricado, talvez a pergunta mais relevante não seja mais “quem está por trás da música?”, mas sim: “o que está por trás dela?”.