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Brasil
Uma fruta com nome difícil de falar – e também pouco conhecida no mercado doméstico - começa a ganhar espaço no Brasil. A achachairu - de origem boliviana e da mesma família do mangostão - possui boa parte da produção no país destinada para exportação.
Foi em 2001 que o produtor Abel Basílio de Souza Neto conheceu a fruta exótica de origem boliviana. À época, seu tio havia trazido algumas sementes da Bolívia e cultivou um pequeno pomar para consumo da família. “Quando as primeiras frutas foram produzidas ficamos maravilhados com o sabor e resolvemos investir em um pomar comercial”, conta.
Em 2007, Souza Neto plantou 600 árvores em consórcio com as lavouras de café que sua família cultivava em Itarana, região serrana do Espírito Santo. “Conforme as árvores foram crescendo, tiramos o café de algumas áreas”, lembra. Hoje são mais de 3 mil árvores, que renderam ao produtor 50 toneladas de frutas na última safra.
“Todo ano plantamos um pouco. Nossa estratégia foi crescer devagar para construirmos uma demanda pela fruta” diz. Ainda assim, passados quase 20 anos do primeiro cultivo, são poucos os brasileiros que conhecem a achachairu. “No mercado externo a fruta é mais conhecida do que no Brasil”, diz Souza Neto, que já destina mais de 50% de sua produção para países da União Europeia, Canadá e parte do Oriente Médio e Ásia.
Segundo ele, os preços praticados na exportação são os mesmos do mercado interno, mas os volumes são maiores. "A venda externa foi uma aposta para driblar a dificuldade de venda no Brasil. O valor pago lá fora é mais estável, não oscila em época de safra, o que torna os embarques interessantes, mesmo com os altos custos logísticos", afirma.
De acordo com José Edmar Urano de Carvalho, pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental, ainda não existem linhas de pesquisa sobre achachairu no Brasil. O cultivo foi iniciado há cerca de 20 anos no país, e nos últimos cinco anos a fruta se tornou mais conhecida. “Ela pertence à família das Garcinias, cujas espécies mais conhecidas no Brasil são a Garcinia gardneriana, de nome popular bacupari, de ocorrência natural na Amazônia e na Mata Atlântica, e a Garcinia mangostana, conhecida como mangostão, cuja produção no Brasil se concentra nos Estados do Pará e Bahia”, explica.
Segundo o pesquisador, as sementes de achachairu não suportam secagem. Portanto, devem ser semeadas logo que retiradas dos frutos. “Elas produzem bem quando cultivadas em locais com temperatura entre 25 graus e 35 graus centígrados”.
Carvalho diz que “o sabor é muito bom. Não há quem prove a fruta e não a aprecie”, aposta. Entre as características de sabor estão um leve toque ácido. No Brasil, há pequenos pomares caseiros em Santa Catarina, São Paulo, Espírito Santo e Pernambuco.
Pouco conhecida no Brasil
A achachairu ainda é desconhecida no mercado interno brasileiro. “A primeira compra é sempre motivada pela curiosidade”, diz o produtor Abel Basílio de Souza Neto. Segundo ele, o grande obstáculo é a oferta restrita, uma vez que a maior parte das redes de supermercados e atacadistas ainda reluta em apostar em um item pouco conhecido.
O grande mercado da fruta é o Estado de São Paulo. “Quem abre o mercado é o Ceagesp”, diz a produtora Renata Fernandes, referindo-se ao Companhia de Entrepostos Gerais do estado de São Paulo, maior centro atacadista da América Latina. “Eles também definem os preços da fruta”, conta ela, que cuida do pomar iniciado por seu pai, Thales Gouveia Fagundes, em Araçatuba (SP), há 13 anos.
Segundo ela, o pai já produzia lichia e buscava mais uma opção de fruta exótica. “Ele foi comprar dez mudas e voltou com 500. A fruta o encantou”, diz. Hoje, com cerca de 480 árvores em produção, ela diz que o desafio é tornar a fruta mais conhecida no mercado interno. “As coisas estão melhorando. Desde o ano passado cerca de 70% da minha produção é comercializada para a Oba Hortifrúti”, conta.
Já Souza Neto vende em entrepostos da região Sudeste e também criou um site para a comercialização.
Renata Fernandes afirma que o rigor no momento da colheita é essencial para a boa imagem da fruta junto ao consumidor. Por isso, em sua propriedade cada árvore é visitada até quatro vezes por safra, já que os frutos não amadurecem de forma igual e nem depois de colhidos. “Eles precisam ser retirados manualmente, no ponto exato”, diz.
Na fazenda da produtora, a colheita cresce cerca de 20% ao ano em função das várias idades das frutíferas. “Em geral, a produtividade oscila em torno de 2 mil frutos por árvore”, diz ela, que iniciou as vendas externas na safra passada. “Enviei duas toneladas para a França, e a aceitação do produto foi excelente. Este ano devemos embarcar um volume maior”, conta.
Os preços pagos ao produtor variam. Em São Paulo, no início da última safra, em outubro de 2024, o quilo era negociado a R$ 55, valor que caiu para R$ 40 no final da safra em fevereiro. No Espírito Santo, onde a colheita vai de janeiro a abril, os preços oscilaram de R$ 22 a R$ 10 por quilo.
Ainda não existem estatísticas sobre a área plantada no Brasil. A maior produtora mundial é a região de Santa Cruz, na Bolívia, que soma 2 mil hectares e safra anual de cerca de 100 toneladas. “Lá a produção cresceu muito nos últimos anos após pesquisas patrocinadas pela agência do governo japonês Jica (Agência de Cooperação Internacional do Japão)”, afirma o pesquisador José Edmar Urano de Carvalho, da Embrapa.
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