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A carne suína é tradicionalmente uma coadjuvante na disputa com as carnes bovina e de frango pela preferência dos brasileiros, mas, neste ano, os produtores têm ao menos uma grande notícia a comemorar. O aquecimento da demanda no mercado interno e também o aumento das exportações ajudaram os criadores a ter boa rentabilidade em 2025, deixando para trás três anos de aperto no segmento.
Agora, criadores e agroindústrias correm para acertar as contas pendentes dos anos de dificuldades e para investir nos plantéis. “Há investimentos, principalmente, em Mato Grosso do Sul, para aumentar a produção nos próximos dois anos. Os criadores estão pagando as contas, investindo para melhorar o manejo e o bem-estar animal e também para construir novas granjas”, diz o presidente da Associação Brasileira de Criadores de Suínos (ABCS), Marcelo Lopes.
Segundo ele, o aumento da demanda ajudou a elevar o preço pago ao produtor para uma média de R$ 7 a R$ 8 por quilo, valor que é remunerador para os criadores. “Não é o valor que nós queremos, mas ele vem remunerando”, pontua Lopes, sem detalhar o que seria um “melhor valor”. Em Santa Catarina, maior produtor do país, a cotação média do suíno vivo está em
R$ 7,65 o quilo, valor 28% mais alto do que o dessa mesma época do ano passado, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).
O quadro no segmento está muito melhor hoje do que em qualquer outro momento dos últimos três anos, mas avanços adicionais terão que ocorrer em um contexto de menos aumentos de preços. Varejistas e analistas da indústria acreditam que o preço da carne suína ao consumidor final estaria perto do teto, o que pode limitar o aumento da remuneração dos produtores.
“A carne bovina subiu quase 30% de 2024 para 2025. A suína acompanhou essa tendência, assim como o frango. Não há espaço para aumentar mais o preço da carne suína”, disse ao Valor David Buarque, gerente comercial sênior do Carrefour Brasil, responsável pela área de açougues da rede. Um executivo de outra grande varejista afirmou que cortes como pernil, barriga e costela de porco são os que estão no limite, sem espaço para reajustes adicionais. Para a fonte, os demais cortes ainda podem subir sem que isso afete a demanda.
Outro executivo de rede de varejo comentou que, em alguns momentos, a empresa foi mais cautelosa na compra de barriga suína e bacon, que tinham ficado mais caros. Ele disse que isso causou a impressão de que o produto estaria escasso em algumas lojas, mas, segundo ele, esses itens não chegaram a faltar efetivamente.
Para Buarque, a carne suína tem grande potencial de crescimento no país. No campo, ele argumenta, a produção oferece boa rentabilidade ao produtor, e, no varejo, o produto tem preço mais acessível para o consumidor do que a carne bovina.
No segundo semestre, a pecuária bovina deve entrar em fase de baixa oferta de animais no país, o que eleva o preço da arroba e da carne de gado. Como consequência, o valor da carne suína também pode subir, mas isso vai depender de quantos reajustes o consumidor ainda conseguirá absorver — e, para os varejistas, o espaço é curto.
“Os preços das quatro proteínas, as carnes bovina, suína e de frango e também do ovo, estão maiores já neste primeiro semestre porque aumentou a exportação, e o crescimento da produção (de carne suína) ainda é muito tímido”, afirma Iuri Machado, consultor de mercado da ABCS.
Em maio, as exportações brasileiras de carne suína cresceram 13,7% em relação a maio do ano passado, para 118,7 mil toneladas, informou na segunda-feira (9/6) a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). A receita dos embarques aumentou 29,3%, somando US$ 291,1 milhões. No acumulado do ano, o volume das exportações cresceu 15,4%, somando 584,8 mil toneladas, e a receita cresceu 29,8%, chegando a US$ 1,4 bilhão.
Machado lembra que, entre 2021 e 2022, a oferta do produto teve um aumento de cerca de 300 mil toneladas por ano. “Isso fez com que o preço pago ao produtor despencasse”, diz. Em 2023 e no ano passado, a estratégia foi tentar diminuir a produção até que houvesse um equilíbrio. Agora, afirma ele, é hora de o segmento consolidar sua recuperação e retomar o crescimento.
A melhora do quadro geral da atividade favorece os investimentos na cadeia, que precisa crescer de forma coordenada para evitar os desequilíbrios no quadro de oferta e demanda que ocorreram nos anos recentes. “O único problema são os juros. Se estivessem mais baixos, o setor estaria investindo muito mais”, pondera Marcelo Lopes, o presidente da ABCS. Parte dos investimentos os produtores fazem com capital próprio, mas, o dirigente observa que também há necessidade de financiamentos.