Pollyana Araújo/Primeira Página
França/Amazônia
O governo francês anunciou a construção de uma prisão de segurança máxima na Guiana Francesa, território ultramarino localizado na América do Sul. A unidade será erguida em Saint-Laurent-du-Maroni, município cercado pela selva amazônica e próximo à fronteira com o Brasil e o Suriname. O anúncio foi feito pelo ministro da Justiça, Gérald Darmanin, e publicado no domingo pelo jornal francês Le Journal du Dimanche.
A estrutura de segurança máxima fará parte de um complexo prisional com capacidade para 500 detentos e orçamento estimado em 450 milhões de dólares (cerca de R$ 2,5 bilhões). Prevista para ser inaugurada em 2028, a nova unidade contará com 60 vagas destinadas a presos de alta periculosidade, incluindo traficantes e condenados por radicalismo islâmico. O Ministério da Justiça da França informou que 15 dessas vagas serão reservadas especificamente para este último grupo.
O governo francês justifica a localização remota como uma estratégia para isolar líderes de organizações criminosas e dificultar sua comunicação com redes de tráfico de drogas em atividade na França continental.
Prisão será construída em área de colônia penal histórica
Saint-Laurent-du-Maroni foi sede de uma das colônias penais mais conhecidas da França entre os séculos XIX e XX. O campo penal instalado na região ficou marcado pelo envio de prisioneiros políticos e criminosos comuns para áreas de isolamento, como a Ilha do Diabo. A história inspirou o livro Papillon, posteriormente adaptado para o cinema.
Hoje, o município segue como ponto estratégico, sobretudo pelo alto índice de criminalidade e sua posição na rota internacional de tráfico de drogas. Em 2023, a Guiana Francesa registrou uma taxa de 20,6 homicídios por 100 mil habitantes — quase 14 vezes maior que a média da França. Parte significativa das apreensões de cocaína acontece com passageiros tentando embarcar com droga no corpo em voos com destino ao aeroporto de Orly, em Paris.
Projeto gera críticas e indignação na Guiana
O anúncio gerou forte reação de autoridades e parlamentares locais, que alegam não terem sido consultados sobre a mudança no projeto. O plano inicial, firmado em 2017, previa uma nova prisão com o objetivo de reduzir a superlotação carcerária da região, sem previsão de abrigar presos transferidos da França continental.
A Coletividade Territorial da Guiana Francesa, que reúne os representantes políticos da região, divulgou nota de repúdio ao projeto. Os parlamentares locais consideram a decisão desrespeitosa e afirmam que o território não pode ser transformado em depósito de criminosos e radicalizados enviados da Europa. Para eles, a proposta representa um descompasso com os pedidos feitos por medidas de segurança pública voltadas à realidade local.
O deputado franco-guianense Jean-Victor Castor também se posicionou contra a decisão, classificando a medida como um ato de imposição política e um reflexo de práticas coloniais. Ele pediu a retirada imediata do projeto e exigiu que o governo central abra diálogo com os representantes da Guiana Francesa.