Primeira Página
Mato Grosso
A nova ofensiva tarifária do governo dos Estados Unidos contra a Rússia, devido a guerra com a Ucrânia, acendeu o sinal de alerta no setor produtivo brasileiro, especialmente em Mato Grosso. Após taxar em 50% produtos da Índia sob o argumento de que o país mantém relações comerciais com a Rússia, cresce o temor de que o Brasil seja o próximo alvo.
A possível retaliação americana preocupa, especialmente estados com forte dependência do agronegócio e do comércio exterior, como Mato Grosso, maior produtor de grãos e carne bovina do país.
O risco de sanções atinge em cheio dois pilares da economia mato-grossense: a importação de fertilizantes e diesel da Rússia, e as exportações para os Estados Unidos — uma equação complexa que, se desequilibrada, pode gerar impactos profundos no campo, na indústria e no emprego.
“É um dilema difícil e perigoso”, alerta o analista e colunista, Gustavo Oliveira.
Para ele, o cenário exige atenção máxima e habilidade diplomática do governo brasileiro. “Não é só o tarifaço atual que nos preocupa. O que pode vir a seguir é ainda mais grave”, afirmou.
Oliveira lembra que o Brasil importa 90% dos fertilizantes usados no agronegócio, sendo cerca de 30% originados da Rússia, com logística eficiente e preços mais acessíveis. O país também importa óleo diesel russo, combustível essencial para o transporte e para a cadeia produtiva.
“Se o Brasil for impedido de importar da Rússia, vamos enfrentar sérios problemas. Isso compromete o agronegócio como um todo, desde o plantio até a distribuição”, alertou.
Por outro lado, alinhar-se à Rússia pode trazer prejuízos à indústria nacional. “Se o Brasil escolher ficar ao lado da Rússia, corremos o risco de perder acesso ao mercado norte-americano, o que afeta diretamente as exportações da indústria brasileira”, avaliou.
Diante desse impasse, Gustavo defende uma posição de neutralidade. “É um dilema muito difícil. Escolher qualquer dos lados neste momento é prejudicar a economia. O Brasil precisa permanecer neutro para continuar mantendo relações comerciais com os Estados Unidos, com a Rússia e também com a China, nossa maior parceira no agro”, disse. “Vamos precisar de muita competência e bom senso dos negociadores para que o país não tenha que fazer uma escolha que custe caro à nossa economia.”