Luísa Martins, Isabel Mega e Gustavo Uribe/CNN
Descontente com o que considera uma "crise de civilidade" em nível global, o ministro Luís Roberto Barroso, do STF (Supremo Tribunal Federal), cogita deixar a Corte depois de concluir sua gestão como presidente, em setembro.
Embora ainda não haja "martelo batido" (nenhuma decisão definitiva é esperada ainda para este ano), o entorno do presidente Luiz Inácio Lula da Silva já começou a discutir possíveis candidatos para a eventual vaga.
Reservadamente, pessoas próximas de Barroso relatam que, pelo menos desde 2022, o ministro indica que não deve permanecer no Supremo até a idade limite para a aposentadoria compulsória. Ele tem 67 anos e poderia ficar na Corte até os 75.
Ao longo dos últimos meses, no entanto, a hipótese vem ganhando força. O atual presidente do STF entende que já cumpriu sua missão como magistrado e que o ideal, agora, seria submergir e cuidar da vida pessoal.
Interlocutores de Barroso afirmam que ele ficaria satisfeito com a ideia de se dedicar às atividades de professor universitário e palestrante, mas que também aceitaria a alocação em alguma embaixada, caso indicado pelo governo.
A escalada da ofensiva dos Estados Unidos também estaria contribuindo para o desânimo de Barroso. Ele é apontado como um dos ministros cujo visto foi cancelado - Donald Trump o considera um "aliado" do ministro Alexandre de Moraes.
Enquanto Moraes tem minimizado o efeito da medida no seu cotidiano, Barroso tem relação próxima com o país. É colaborador na Harvard Kennedy School e, nas férias, costuma viajar para lá - gosta de ficar recluso, lendo e escrevendo artigos.
Segundo auxiliares, o ministro sente que foi punido "por tabela" e que, apesar de dispensar pleno apoio a Moraes e rechaçar completamente as ameaças de Trump, não há o que ele possa fazer para reverter o cenário.
Barroso também estaria reflexivo sobre como será seu dia a dia no STF depois de entregar a presidência ao ministro Edson Fachin. Ele passaria a integrar a Segunda Turma, composta por ministros com quem não tem tanta proximidade.
Atualmente, além de Fachin, integram a Segunda Turma os ministros Dias Toffoli, Gilmar Mendes, André Mendonça e Nunes Marques. Será a primeira vez que Barroso participará do colegiado. O ministro ficou na Primeira Turma de 2013 a 2023.
Se o ministro decidir efetivamente antecipar sua aposentadoria, Lula, sem garantias de reeleição no próximo ano, pode ter a oportunidade de indicar um novo nome para o Supremo antes do fim do seu mandato.
O atual advogado-geral da União, Jorge Messias, é um dos mais bem cotados para ocupar a vaga. Fontes próximas a Lula citam também o nome da presidente do STM (Superior Tribunal Militar), Maria Elizabeth Rocha.