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Os frigoríficos brasileiros suspenderam a produção e o processamento de cortes de carne bovina destinados especificamente aos Estados Unidos após o presidente americano Donald Trump anunciar a cobrança de tarifa de 50% sobre os produtos que o Brasil vende aos EUA. Com o “tarifaço”, será necessário rever os contratos de exportação, e os embarques ficarão inviáveis neste ano, segundo Roberto Perosa, presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec).
Antes do anúncio da tarifa, o Brasil tinha a expectativa de dobrar suas vendas de carne bovina aos americanos em 2025, mas, agora, o cálculo deverá ser revisto. Há dúvidas também sobre o destino dos contêineres que estão nos portos brasileiros ou em alto-mar, a caminho dos Estados Unidos. A maior parte das cargas que iriam para os EUA deverá ser redirecionada para China, Sudeste Asiático e Oriente Médio.
“As indústrias brasileiras já decidiram pausar, temporariamente, a produção destinada aos Estados Unidos. As indústrias diminuíram muito o fluxo de produção da carne específica que vai aos Estados Unidos”, afirmou Perosa em conversa com jornalistas correspondentes estrangeiros na sexta-feira (11/7). Segundo ele, as empresas estão “apreensivas” com o que pode acontecer.
Na indústria sucroalcooleira, a tarifa americana de 50% sobre os produtos brasileiros deverá impor um custo adicional de mais de US$ 100 milhões às usinas de açúcar e etanol, estima a Datagro. Para elaborar o cálculo, a consultoria aplicou a taxa sobre volumes e preços de referência de exportação dos dois produtos.
No ano passado, o Brasil vendeu 309,7 milhões de litros de etanol aos Estados Unidos, por US$ 0,587 o litro, em média. Com a taxa de 50%, o custo adicional para as empresas seria de US$ 90,9 milhões. No caso do açúcar, o custo adicional seria de US$ 27,9 milhões, considerando-se a cota isenta de tarifa, de 146,6 mil toneladas, e um valor médio de US$ 371 por tonelada.
A cadeia produtiva do mel no Piauí já sente os efeitos do tarifaço de Trump. Na sexta-feira, a Casa Apis, central cooperativa que reúne apicultores orgânicos no Nordeste, recebeu um pedido para suspender o embarque de cinco contêineres para o mercado americano, totalizando 95 toneladas. Antônio Dantas Filho, diretor-geral, explica que não houve o cancelamento dos contratos. E, ontem (13/7), obteve a liberação da carga.
As indústrias brasileiras de arroz estão preocupadas com os efeitos que a tarifa de 50% sobre as exportações brasileiras para os EUA terão sobre o setor. Atualmente, o mercado americano responde 19% dos embarques de arroz branco do Brasil.
“Enquanto os EUA têm ampla facilidade para substituir o arroz brasileiro, o Brasil depende desse mercado para escoar um volume relevante de sua produção beneficiada”, disse a Associação Brasileira da Indústria do Arroz (Abiarroz), em nota.