Wesley Moreno com informações Uol
Nova Mutum/MT
A confirmação de um foco de gripe aviária em uma granja de Montenegro (RS) acendeu o alerta no setor de proteínas animais e já provoca efeitos em cadeia na economia brasileira. Especialistas apontam que a interrupção das exportações pode gerar uma queda temporária no preço do frango e do ovo, devido à sobreoferta no mercado interno. Contudo, o alívio no bolso do consumidor não deve durar muito.
Segundo o economista André Braz, da FGV Ibre, a suspensão das exportações por diversos países – incluindo China, União Europeia, Argentina e Coreia do Sul – forçará a realocação de parte da produção de frango e ovos no mercado interno, ampliando a oferta e, consequentemente, pressionando os preços para baixo. “É um movimento de curto prazo. Logo os produtores vão ajustar o ritmo de produção para evitar prejuízos com a criação de animais além da demanda”, afirma.
O ciclo produtivo das aves, que gira em torno de 30 a 40 dias, facilita essa adaptação rápida. Para Antonio da Luz, economista-chefe da Farsul, a queda nos preços será pontual. “O mercado interno vai absorver esse impacto inicial, mas logo haverá reorganização. Não se pode parar totalmente a produção, pois a exportação deve ser retomada em breve”, pontua.
Além do impacto nos preços, a suspensão das importações por países que representam cerca de 28% das exportações brasileiras — o equivalente a US$ 2,8 bilhões em 2024 — impõe desafios logísticos significativos ao setor. “Estamos falando de um fluxo diário de 25 milhões de aves. Qualquer ruptura exige readequação na cadeia, inclusive no armazenamento de cortes não exportados”, explica Ricardo Santin, presidente da ABPA.
Felipe Vasconcellos, da Equus Capital, ressalta que cortes menos consumidos no Brasil, como o pé de galinha — amplamente exportado para a China —, precisarão ser realocados internamente ou redestinados para outros fins, como ração animal. A consequência direta, segundo ele, será uma provável queda no valor das ações de gigantes do setor, como BRF e JBS, no curto prazo.
O ovo, que já vinha sendo apontado como um dos vilões da inflação, com alta acumulada de 12,32% nos últimos 12 meses segundo o IPCA, pode também ter uma redução momentânea nos preços. Porém, os especialistas reforçam: o impacto será limitado e passageiro.
Enquanto isso, o governo brasileiro negocia com países parceiros a limitação dos embargos apenas à região afetada — como já fizeram Japão, Arábia Saudita e Emirados Árabes. A expectativa é de que, superado o surto, as exportações sejam retomadas com relativa agilidade.
