Mauro Fonseca/Power Mix
Brasil
Na era da inteligência artificial generativa, uma nova e controversa tendência digital está conquistando corações, e carteiras. Mulheres hiper-realistas, criadas por inteligência artificial, estão seduzindo internautas, especialmente homens mais velhos e solitários, em redes sociais. Esses perfis femininos virtuais acumulam seguidores, recebem declarações apaixonadas e, mais alarmante, Pix em massa.
Com rostos que simulam perfeição e comportamentos cuidadosamente programados para parecerem autênticos, essas "influencers artificiais" são elaboradas com tecnologia de ponta: IA generativa, ferramentas como TensorArt, ComfyUI, Face Swap e técnicas de storytelling emocional. A intenção? Criar personas que emocionam e engajam como se fossem reais.
Um mercado de milhões
O objetivo é claro: transformar a carência emocional dos usuários em lucro recorrente. E está funcionando. Só no Brasil, há relatos de criadores que faturam mais de R$ 20 mil por mês, vendendo conteúdo adulto com essas personagens fictícias ou comercializando cursos que ensinam a replicar o modelo de negócio.
Essas influencers virtuais podem assumir múltiplas facetas da garota pobre e vulnerável que pede atenção, à figura dominadora e inalcançável. Tudo meticulosamente desenhado para atingir diferentes perfis emocionais. A engenharia por trás vai muito além da estética: tom de voz, cenário, iluminação e até supostos pets de estimação são elementos calculados para provocar empatia e atrair engajamento.
Comentários que alimentam a ilusão
Nos comentários das postagens, não faltam exemplos de homens apaixonados, oferecendo amor, companhia e dinheiro. Frases como “Boa noite meu amor, você é muito linda” ou “Bora conversar, me chama aqui” evidenciam a eficácia da manipulação emocional por trás dessas criações digitais.
Um fenômeno global e crescente
Embora ganhando força no Brasil, esse fenômeno é mundial. Plataformas como Fanvue e Privacy já estão sendo utilizadas para monetizar esses perfis com assinaturas mensais. Tutoriais detalhados ensinam passo a passo como gerar modelos IA consistentes, atrair seguidores e escalar lucros por meio de tráfego pago e técnicas de sedução emocional.
A linha entre real e artificial está se dissolvendo
Com o mercado de IA projetado para ultrapassar US$ 990 bilhões até 2027, o uso dessas tecnologias, ético ou não, tende a se expandir. A quantidade de “IAs do job” já é absurda. Cada uma com sua aparência, voz e personalidade própria, moldada para agradar o maior número possível de gostos.
A nova fronteira da manipulação digital
Mais do que uma curiosidade tecnológica, o submundo das IAs do job levanta discussões sérias sobre ética, identidade e o impacto da tecnologia nas relações humanas. Trata-se de uma nova forma de exploração emocional onde desejo, carência e ilusão são convertidos em máquinas de faturamento.
Num cenário em que o real e o artificial se misturam cada vez mais, o maior risco pode não estar na tecnologia em si, mas na incapacidade de muitos usuários em reconhecer que estão se apaixonando por algoritmos.