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Brasília/DF
O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central divulga nesta quarta-feira a nova taxa básica de juros da economia brasileira, que pode chegar a 14,75%, o maior índice registrado em 19 anos.
Atualmente, a Selic está em 14,25% ao ano, valor alcançado a partir de três aumentos de 1 ponto percentual consecutivos.
Caso o valor se confirme, será o maior desde 2006. Vale lembrar que quando o Banco Central altera a taxa Selic, o referencial de juros da economia, custos de captação para bancos e instituições financeiras também são alterados.
Na prática, quando a taxa sobe, os juros cobrados nos financiamentos, empréstimos e cartões de crédito ficam mais altos, o que consequentemente desestimula o consumo e favorece a queda da inflação.
Na última reunião, o grupo já havia sinalizado um possível ajuste “de menor magnitude” para o próximo encontro.
Na época, o comitê explicou que o aumento se deu pela continuidade do “cenário adverso”, crescimento das incerteza e das “defasagens inerentes ao ciclo de aperto monetário em curso”.
No boletim, foi adiantado, ainda, que para esta próxima reunião, o resultado dependerá da “magnitude total do ciclo de aperto monetário, será ditada pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerá da evolução da dinâmica da inflação”.
As projeções do boletim Focus, divulgado nesta segunda-feira (5), apontam que analistas de mercado reduziram as projeções de juros da Selic para 2025 a 14,75%, o resultado ocorre após o índice ser mantido a 15% por 17 semanas.
Desafios do Copom
Para o economista Hugo Garbe, caso confirmada, o aumento em 0,5 ponto percentual, representará uma resposta a um conjunto de pressões que têm dificultado a condução da política monetária: inflação resistente, desequilíbrio fiscal e ambiente externo adverso.
Ele aponta que a inflação acumulada nos últimos 12 meses tem se mantido acima da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional, “com núcleos inflacionários persistentes, especialmente no setor de serviços”.
Segundo Garbe, o comportamento dos preços indica que a desinflação estrutural ainda não se consolidou, mesmo diante de uma economia que dá sinais de desaceleração.
“O consumo das famílias enfraqueceu e a produção industrial recuou, mas isso não tem sido suficiente para conter as pressões sobre o nível geral de preços”, concluiu.
Cenário exterior
No cenário exterior, o especialista explica que a volta de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos trouxe uma reconfiguração da política comercial americana, principalmente por conta do aumento de tarifas.
Com isso, a pressão no câmbio e o aumento no custo de importações, há a alimentação de uma inflação importada, que se soma aos fatores internos.
Garbe ensina que a elevação da Selic visa reforçar o compromisso da autoridade monetária com o controle da inflação e com a ancoragem das expectativas futuras.
“O aumento de 0,5 ponto percentual pode parecer duro, especialmente em meio a uma economia com ritmo moderado, mas a incerteza fiscal e a deterioração do cenário externo exigem uma postura mais firme para preservar a credibilidade da política monetária”, completa.
O economista Benito Salomão avalia que o Banco Central vem, preventivamente, adotando medidas defensivas ao cenário exterior, como a guerra tarifária entre Estados Unidos e China.
Uma vez que, nesse cenário, qualquer redução do comércio internacional gera ineficiências em cadeias de produção, que podem vir acompanhadas de altas de preço.
“Nesse sentido, pode haver repique inflacionário, como consequência dessa política, e pode haver também uma persistência inflacionária, ou seja, uma maior resiliência da inflação frente as doses das taxas de juros, que o Banco Central vem aumentando para tentar lidar com esse problema”, explica.
Salomão arrisca que, agora, a situação é observar se esse choque vai se propagar na economia.
“Porque também existe um fator deflacionário, que existe neste primeiro momento, que é a depreciação do dólar. Então, a moeda americana valendo menos, isso exerce um efeito contrário em economias como a brasileira, sobre os índices de preço”, analisa.
Como a Selic impacta o bolso dos brasileiros
Segundo economistas, os impactos giram em torno do crédito, pois a Selic regula a média de juros aplicada nessas transações. Logo, quanto mais alta a taxa, mais restrito é o acesso ao crédito.
Com o impacto instantâneo, um possível aumento pode deixar os serviços mais caros, complicar a situação para brasileiros endividados e reduzir o poder de compra.
O economista Hugo Garbe explica que a intenção do Banco Central é justamente segurar os preços por meio do encarecimento do crédito, o que desmotiva a população a comprar.
Então, quando a Selic sobe, os juros dos empréstimos, financiamentos e cartões de crédito também aumentam. Com isso, o consumidor acaba por reavaliar seus gastos e adiar compras maiores, como carros e imóveis, segundo o especialista.
Além disso, Garbe ressalta que as empresas podem pisar no freio em investimentos e contratações a partir da desaceleração do consumo devido ao crédito caro.
Isso traria consequências para o mercado de trabalho e pode gerar desemprego, o que também diminui o rendimento das famílias, principalmente se a inflação demora a baixar.
“Se a inflação demorar a cair, o rendimento real das famílias pode continuar pressionado, tornando o cenário ainda mais difícil para quem já sente no dia a dia o peso do aumento de preços”, diz.
Porém, para que a estratégia seja eficaz contra inflação, é preciso entender a origem dela, segundo Garbe. Ele explica que, se o aumento dos preços for impulsionado pelo consumo interno, a Selic deve frear a alta.
Mas se for causado por fatores externos, como a alta do petróleo ou problemas na oferta de alimentos, os juros não podem ser suficientes sozinhos.